107. Carolina Maria de Jesus

Bem-vindos ao podcast Cinco Minutos de Português Brasileiro. Pelos próximos cinco minutos, vou falar em português brasileiro de forma clara e pausada. 

Vou começar este episódio lendo uma pequena história para vocês:

“Dona Helena encontrou sua ex-empregada:

— Bom dia, Maria! Como vai? 

— Vou vivendo como Deus quer. 

— Você não quer trabalhar para mim? Você é tão caprichosa, trazia a minha casa tão limpa.

A criada: 

— A senhora também trazia o meu estômago tão limpo.”

Essa pequena história, que com poucas linhas e um jogo de palavras genial retrata uma realidade brasileira, foi escrita por Carolina Maria de Jesus e publicada no livro Meu Sonho é Escrever… Contos Inéditos e Outros Escritos, organizado por Raffaela Fernandez.    

Carolina Maria de Jesus nasceu no dia 14 de março de 1914 na cidade de Sacramento, no estado de Minas Gerais. Seus pais eram muito pobres, e Carolina estudou muito pouco. Porém, ela aprendeu a ler e escrever. 

Adulta, Carolina acabou indo a São Paulo. Ela morou na favela do Canindé, na zona norte da cidade. Essa favela não existe mais, mas na época ali viviam cerca de cinquenta mil pessoas. Em São Paulo, Carolina começou a trabalhar como empregada doméstica na casa do cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini. Um cardiologista é um médico que cuida da saúde do coração. Na casa desse médico, na casa desse cardiologista, Carolina teve acesso a muitos livros, ela podia ler muitos livros. Ela adorava ler.  

Em 1949, nasceu o primeiro filho de Carolina, João José de Jesus, e ela voltou a trabalhar como catadora. Uma pessoa que trabalha como catadora recolhe material reciclável, como papel, plástico e vidro, das ruas para vender. Nessa época, Carolina começou a escrever suas ideias e suas experiências em cadernos que encontrava no lixo. Um desses cadernos, um diário que ela havia começado a escrever em 1955, deu origem a seu livro mais famoso, intitulado Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960. 

Como Carolina se tornou uma autora publicada? Ela foi descoberta ao acaso ao conversar com o jornalista Audálio Dantas. O jornalista estava fazendo uma matéria para o jornal Folha da Noite na Favela do Canindé. Ele ouviu Carolina ameaçar transformar um grupo homens que estavam vandalizando, que estavam destruindo um parquinho para crianças em personagens de seu livro de memórias. 

Eu li Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada há alguns anos, e esse livro me marcou muito. Não somente pela realidade dura da fome e da falta de moradia digna que ele relata, que ele conta, mas também por sua linguagem. Carolina mistura a linguagem oral, a linguagem popular, do dia a dia, com uma linguagem literária, e assim cria uma linguagem única que, para mim, soou muito poética. 

O livro marcou muitas pessoas. Após o lançamento de Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, Carolina ficou famosa. O livro foi traduzido para outras línguas e publicado em outros países. Contudo, mesmo tendo saído da favela, Carolina continuou sendo pobre e catando papel e outros materiais recicláveis para sobreviver. 

Carolina Maria de Jesus morreu aos 62 anos, em 1977, de insuficiência respiratória. Ela tinha problemas para respirar por causa da asma. 

Obrigada por ouvir até aqui.

A transcrição deste episódio está no site www.melissabarbosa.com.br

Até o próximo, tchau!